02/10/2017

São Romano o Melodista, Diácono e Compositor (†após 555), 1º de outubro






Romano o Melodista ou o Hinógrafo (em grego: Ῥωμανὸς ὁ Μελωδός) foi um monge, hinógrafo e poeta bizantino que por volta do ano 493 e morreu após o ano 555. Considerado um dos maiores hinógrafos de seu tempo, foi apelidado de "Pindaro da poesia rítmica".¹ As Igrejas Católica e Ortodoxa o veneram como santo.
Sabe-se pouquíssima coisa a respeito da vida de Romano o Melodista. Alguns detalhes são encontrados no MenaionN 1 do mês de outubro, que relembra como ele recebeu seu dom para a hinografia.2 Ele é mencionado pelo poeta São Germano no Século VIII, e também encontramos referências a Romano na Suda sob o nome de “Romano o Melódio”.

Estas raras informações nos contam que ele nasceu numa família judia de Emese (atual Homs, na Síria), tendo sido batizado quando ainda era criança – não se sabe se toda a família também se converteu ao cristianismo. Romano se mudou, em seguida, para Béritos (atual Beitute, no Líbano), onde foi ordenado diácono da Igreja da Ressurreição. Pouco tempo depois, foi se instalar em Constantinopla, onde ocupou o posto de sacristão na “Grande Igreja” (Santa Sofia), habitando no Mosteiro de Kyros, onde permaneceu até o fim de sua vida e onde foi enterrado junto de seu discípulo, Santo Ananias.3

Se as datas de seu nascimento e morte estiverem exatas, ele deve ter vivido sob os reinados dos Imperadores Anastácio I (491–518)N 2,4,5 e Justiniano I (527-565)6 , ele próprio compositor de diversos hinos, o qual teria sido contemporâneo de dois outros hinógrafos reputados, Anastasios e Kyriakos.7

Obra

Ícone de São Romano (Bielorússie, 1649).
Conta-se que Romano compôs mais de mil hinos, ou Kontakia, cantados em diversas festas religiosas ou aniversários de santos do calendário litúrgico. Apenas 85 são conhecidos atualmente, dos quais provavelmente cerca de 60 são autênticos.7

Conta a lenda que Romano não era predisposto a esta tarefa; sua voz era péssima, ele não conseguia ler em público sem causar crises de risos em seus colegas. Por volta do ano 518, enquanto ele trabalhava na igreja da Panagia em Blanchernes, ele adormeceu durante o ofício de Vigíliada Natividade pouco antes de fazer a leitura do Livro dos Salmos. Enquanto dormia, a Theotokos (“Mãe de Deus”) lhe apareceu em sonho segurando um rolo, e ela mandou que o engolisse. Logo ele despertou, recebeu a bênção do Patriarca e subiu ao ambão, onde improvisou seu hino mais célebre, o Kontakion da Natividade, maravilhando o Imperador, o Patriarca, o clero e a multidão de fiéis, tanto pela profundidade das ideias teológicas do hino quanto pela voz e o canto do intérprete.2

A tradição diz que se trata do primeiro Kontakion (κοντάκιον) cantado em todos os temposN 3. Até o Século XII, ele era cantado pelos coros de Santa Sofia e dos Santos Apóstolos de Constantinopla, reunidos todos os anos no banquete que o Imperador oferecia por ocasião da festa da Natividade. Este hino se apresenta sob a forma de um diálogo entre a Mãe de Deus e os Magos, quando vieram visitar o Menino recém-nascido, evento comemorado em  25 de dezembro, segundo o rito bizantino e em 6 de janeiro, segundo o rito romano.

Entre os outros Kontakia que lhe são atribuídos, os mais conhecidos são:
  • o martírio de Santo Estêvão;
  • a morte de um monge;
  • o Julgamento Final;
  • o Filho Pródigo;
  • a ressurreição de Lázaro;
  • a queixa de Adão;
  • a traição de Judas.

Ainda que a maior parte de seus Kontakia tragam assuntos religiosos lembrando histórias do Antigo ou do Novo Testamentos, ou contando a vida do santo do dia, Romano também abordou assuntos contemporâneos, como a Revolta de Nika no hino “Sobre o tremor de terra e o fogo”, ou a reconstrução de Santa Sofia, em “O novo Salomão” (alusão a Justiniano I).7

Esses Kontakia estão escritos na Koiné aticisante, ou seja, numa linguagem popular porém de nível elevado, onde abundam as expressões judaicas, o que confirma as origens do compositor. Imagens escolhidas com cuidado, metáforas e antíteses impressionantes, fortes comparações, criando novas expressões e uma viva dramatização de assuntos que caracterizam seu estilo.

Kontakion

A Virgem e Romano o Melodista no Menológio de Basílio II.
Os anos que se seguiram ao Concílio da Calcedônia viram se desenvolver este gênero literário –  os hinos religiosos – que atingiu seu ápice no Século VI. Os compositores deixaram progressivamente de imitar a métrica clássica em favor de uma nova forma, baseada num esquema de sílabas acentuadas repetindo-se de verso em verso.

O Kontakion se apresentava sob a forma de um sermão composto de 18 a 30 estrofes, tendo cada uma um certo número de versos. As estrofes eram religadas por um refrão e unidas por um acróstico. Cada Kontakion começava por uma estrofe modelo (heirmos), que indicava a melodia e o esquema silábico. Quando era cantado na melodia original, chamava-se idiomelon8,9.

Romano o Melodista foi o maior compositor de Kontakia de sua época. Ele acabou não sendo imitado, e o gênero desapareceu em meados do Século VII, provavelmente por ser muito complexo, sendo substituído pelo Kanon (Canon), mais simples e que, segundo se diz, foi inventado por André de Creta e ilustrado por João Damasceno.10,11

O nome de Romano o Melodista foi mencionado entre muitos outros como autor do Acatista, ou Hino Acatista, um hino em honra à Mãe de Deus para agradecer-lhe a proteção que ela teria dado à cidade de Constantinopla durante o cerco de 626; este hino é o mais célebre da liturgia grega ortodoxa.7

Notas
1.        Conjunto de doze livros (um por mês) os quais, na Igreja Ortodoxa, contêm os ofícios das festas fixas do calendário litúrgico. São Romano é festejado em 1º de outubro.
2.        Uma disputa causou problemas no Século passado para saber se se tratava de Anastácio I ou de Anastácio II (713-716). Hoje há a concordância de que se trata mesmo de Anastácio I.
3.        No sentido estrito da palavra, o kontakion designava o apoio sobre o qual se depositava um manuscrito.

Referências
1.        Krumbacher 1897, p. 663.
2.        a et b (en) « St. Romanos » em St. Michael's Antiochian Orthodox Christian Church (consulté le 2 juillet 2015).
3.        Vasiliev 1952, p. 123.
4.        Vasiliev 1901, p. 435-478.
5.        Krumbacher 1897, p. 312-318.
6.        Vasiliev 1952, p. 186.
7.        abc et d Kazhdan 1991, vol. 3, « Romanos the Melode », p. 1807.
8.        Kazhdan 1991, vol. 2, « Kontakion », p. 1148.
9.        Vasiliev 1952, p. 122.
10.     Treadgold 1997, p. 398.
11.     Hussey 1986, p. 354.

Fontes:
http://levangileauquotidien.org/main.php?language=FR&module=saintfeast&localdate=20171001&id=14029&fd=0
http://levangileauquotidien.org/zoom_img.php?frame=53089&language=FR&img=&sz=full
https://fr.wikipedia.org/wiki/Romain_le_M%C3%A9lode#/media/File:1649._%D0%9F%D0%B0%D0%BA%D1%80%D0%BE%D1%9E.jpg
https://pt.wikipedia.org/wiki/Romano,_o_Melodista#/media/File:Romanos_the_Melodist_(Menologion_of_Basil_II).jpg

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