Romano o Melodista ou o Hinógrafo (em grego: Ῥωμανὸς ὁ Μελωδός) foi um monge, hinógrafo e poeta bizantino que por volta do ano 493 e morreu após o ano 555. Considerado um dos maiores hinógrafos de seu tempo, foi apelidado de "Pindaro da poesia rítmica".¹ As Igrejas Católica e Ortodoxa o veneram como santo.
Sabe-se pouquíssima coisa a respeito da vida
de Romano o Melodista. Alguns detalhes são encontrados no MenaionN
1 do mês de outubro, que relembra como ele recebeu seu dom para a
hinografia.2 Ele é mencionado pelo poeta São Germano no Século VIII,
e também encontramos referências a Romano na Suda sob o nome de “Romano o
Melódio”.
Estas raras informações nos contam que ele
nasceu numa família judia de Emese (atual Homs, na Síria), tendo sido batizado
quando ainda era criança – não se sabe se toda a família também se converteu ao
cristianismo. Romano se mudou, em seguida, para Béritos (atual Beitute, no
Líbano), onde foi ordenado diácono da Igreja da Ressurreição. Pouco tempo
depois, foi se instalar em Constantinopla, onde ocupou o posto de sacristão na
“Grande Igreja” (Santa Sofia), habitando no Mosteiro de Kyros, onde permaneceu
até o fim de sua vida e onde foi enterrado junto de seu discípulo, Santo Ananias.3
Se as datas de seu nascimento e morte
estiverem exatas, ele deve ter vivido sob os reinados dos Imperadores Anastácio
I (491–518)N 2,4,5 e Justiniano I (527-565)6 ,
ele próprio compositor de diversos hinos, o qual teria sido contemporâneo de
dois outros hinógrafos reputados, Anastasios e Kyriakos.7
Obra
Ícone de São Romano (Bielorússie, 1649).
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Conta-se que Romano compôs mais de mil hinos,
ou Kontakia, cantados em diversas
festas religiosas ou aniversários de santos do calendário litúrgico. Apenas 85
são conhecidos atualmente, dos quais provavelmente cerca de 60 são autênticos.7
Conta a lenda que Romano não era predisposto a
esta tarefa; sua voz era péssima, ele não conseguia ler em público sem causar
crises de risos em seus colegas. Por volta do ano 518, enquanto ele trabalhava
na igreja da Panagia em Blanchernes, ele adormeceu durante o ofício de
Vigíliada Natividade pouco antes de fazer a leitura do Livro dos Salmos.
Enquanto dormia, a Theotokos (“Mãe de Deus”) lhe apareceu em sonho segurando um
rolo, e ela mandou que o engolisse. Logo ele despertou, recebeu a bênção do
Patriarca e subiu ao ambão, onde improvisou seu hino mais célebre, o Kontakion da Natividade, maravilhando o
Imperador, o Patriarca, o clero e a multidão de fiéis, tanto pela profundidade
das ideias teológicas do hino quanto pela voz e o canto do intérprete.2
A tradição diz que se trata do primeiro Kontakion (κοντάκιον) cantado em todos os temposN 3. Até o Século XII, ele era cantado pelos
coros de Santa Sofia e dos Santos Apóstolos de Constantinopla, reunidos todos
os anos no banquete que o Imperador oferecia por ocasião da festa da Natividade.
Este hino se apresenta sob a forma de um diálogo entre a Mãe de Deus e os
Magos, quando vieram visitar o Menino recém-nascido, evento comemorado em 25 de dezembro, segundo o rito bizantino e em
6 de janeiro, segundo o rito romano.
Entre os outros Kontakia que lhe são atribuídos, os mais conhecidos são:
- o martírio de Santo Estêvão;
- a morte de um monge;
- o Julgamento Final;
- o Filho Pródigo;
- a ressurreição de Lázaro;
- a queixa de Adão;
- a traição de Judas.
Ainda que a maior parte de seus Kontakia tragam assuntos religiosos lembrando
histórias do Antigo ou do Novo Testamentos, ou contando a vida do santo do dia,
Romano também abordou assuntos contemporâneos, como a Revolta de Nika no hino
“Sobre o tremor de terra e o fogo”, ou a reconstrução de Santa Sofia, em “O
novo Salomão” (alusão a Justiniano I).7
Esses Kontakia
estão escritos na Koiné aticisante, ou seja, numa linguagem popular porém
de nível elevado, onde abundam as expressões judaicas, o que confirma as
origens do compositor. Imagens escolhidas com cuidado, metáforas e antíteses
impressionantes, fortes comparações, criando novas expressões e uma viva
dramatização de assuntos que caracterizam seu estilo.
Kontakion
A Virgem e Romano o Melodista no Menológio de
Basílio II.
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Os anos que se seguiram ao Concílio da
Calcedônia viram se desenvolver este gênero literário – os hinos religiosos – que atingiu seu ápice
no Século VI. Os compositores deixaram progressivamente de imitar a métrica
clássica em favor de uma nova forma, baseada num esquema de sílabas acentuadas
repetindo-se de verso em verso.
O Kontakion
se apresentava sob a forma de um sermão composto de 18 a 30 estrofes, tendo
cada uma um certo número de versos. As estrofes eram religadas por um refrão e
unidas por um acróstico. Cada Kontakion
começava por uma estrofe modelo (heirmos),
que indicava a melodia e o esquema silábico. Quando era cantado na melodia
original, chamava-se idiomelon8,9.
Romano o Melodista foi o maior compositor de Kontakia de sua época. Ele acabou não
sendo imitado, e o gênero desapareceu em meados do Século VII, provavelmente
por ser muito complexo, sendo substituído pelo Kanon (Canon), mais
simples e que, segundo se diz, foi inventado por André de Creta e ilustrado por
João Damasceno.10,11
O nome de Romano o Melodista foi mencionado
entre muitos outros como autor do Acatista, ou Hino Acatista, um hino em honra
à Mãe de Deus para agradecer-lhe a proteção que ela teria dado à cidade de
Constantinopla durante o cerco de 626; este hino é o mais célebre da liturgia
grega ortodoxa.7
Notas
1.
Conjunto de doze livros (um por mês)
os quais, na Igreja Ortodoxa, contêm os ofícios das festas fixas do calendário
litúrgico. São Romano é festejado em 1º de outubro.
2.
Uma disputa causou problemas no Século
passado para saber se se tratava de Anastácio I ou de Anastácio II (713-716). Hoje
há a concordância de que se trata mesmo de Anastácio I.
3.
No sentido estrito da palavra, o kontakion designava
o apoio sobre o qual se depositava um manuscrito.
Referências
1.
Krumbacher 1897, p. 663.
2.
a et b (en) « St. Romanos » em St. Michael's Antiochian Orthodox Christian Church (consulté
le 2 juillet 2015).
3.
Vasiliev 1952, p. 123.
4.
Vasiliev 1901, p. 435-478.
5.
Krumbacher 1897, p. 312-318.
6.
Vasiliev 1952, p. 186.
7.
a, b, c et d Kazhdan
1991, vol. 3, « Romanos the
Melode », p. 1807.
8.
Kazhdan 1991, vol. 2, « Kontakion », p. 1148.
9.
Vasiliev 1952, p. 122.
10. Treadgold
1997, p. 398.
11. Hussey
1986, p. 354.
Fontes:
http://levangileauquotidien.org/main.php?language=FR&module=saintfeast&localdate=20171001&id=14029&fd=0
http://levangileauquotidien.org/zoom_img.php?frame=53089&language=FR&img=&sz=full
https://fr.wikipedia.org/wiki/Romain_le_M%C3%A9lode#/media/File:1649._%D0%9F%D0%B0%D0%BA%D1%80%D0%BE%D1%9E.jpg
https://pt.wikipedia.org/wiki/Romano,_o_Melodista#/media/File:Romanos_the_Melodist_(Menologion_of_Basil_II).jpg
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