06/10/2017

São Dênis o Areopagita, Bispo de Atenas (Século I), 03 de outubro

Dênis o Areopagita (en grec : Διονύσιος ο Αρεοπαγίτης), é um ateniense cujo nome é mencionado no Livro de Atos dos Apóstolos 17, 34. Durante muito tempo foi confundido com o Pseudo Dênis o Areopagita autor do Século VI.
A pregação de Paulo aos atenienses
“São Paulo pregando em Atenas”, Rafael

Em Atos dos Apóstolos 17, São Paulo se encontra em Atenas, percorrendo a cidade e sendo questionado por filósofos epicuristas e estoicos. Estes o consideram como um “tagarela” (σπερμολόγος), ou seja, um falastrão cujo saber não passa de um punhado de elementos esparsos e incoerentes. Eles o levam então ao Areópago para lhe pedir esclarecimentos sobre a pregação. O Areópago pode aqui designar uma colina que fica a oeste da Acrópole, ou ainda um alto conselho que outrora se reunia nesta colina, mas que na época de Paulo se reunia sob o Pórtico real, no entorno da Ágora.1

De acordo com Atos dos Apóstolos 17, 22-232: “De pé, no meio do Areópago, Paulo disse: ‘Senhores de Atenas, em tudo vejo que vocês são extremamente religiosos. De fato, passando e observando os monumentos sagrados de vocês, encontrei também um altar com esta inscrição: Ao Deus desconhecido. Pois bem, esse Deus que vocês adoram sem conhecer, é exatamente Aquele que eu lhes anuncio.’ ”

Paulo tenta adaptar sua pregação ao público de filósofos que o escuta, falando da unidade do gênero humano e da sua vocação a só adorar Aquele em quem temos a vida, e o movimento do ser. Isso não desperta objeção na audiência, até que Paulo fala da Ressurreição, como descrito em Atos 17, 32-34: “Quando ouviram falar de ressurreição dos mortos, alguns caçoavam e outros diziam: ‘Nós ouviremos você falar disso em outra ocasião.’ A essa altura, Paulo saiu do meio deles. Alguns, porém, se uniram a ele e abraçaram a fé. Entre esses estava também Dionísio (Dênis) o Areopagita, uma mulher chamada Dâmaris e outros com eles.”
Retrato de Dênis o Aeropagita num manuscrito bizantino 
oferecido à Abadia de Saint-Denis por Manuel II Paleólogo. 
Obras completas de São Dênis o Aeropagita, 
Museu do Louvre, por volta de 1403-1405.
Atribuições pseudoepigráficas
Dênis o Areopagita é conhecido especialmente tratados místicos redigidos nos Séculos V e Vi pseudoepigráficos a ele atribuídos. É absolutamente impossível que o Dênis evocado nos Atos dos Apóstolos seja o autor dessas obras, todavia esta atribuição é significativa. Pegar emprestado o nome de um personagem para lhe atribuir uma obra era uma maneira de situá-la numa corrente de pensamento ou de apresenta-la como a tradução do ensinamento desse personagem. A atribuição es escritos do Pseudo-Dênis o Areopagita ao verdadeiro Dênis o Areopagita o situa, assim, imediatamente como uma literatura ao mesmo tempo filosófica e cristã.3 Além disso, a teologia apofática desenvolvida pelo autor concordava com a referência da catequese paulina “ao deus desconhecido”.

A coleção de obras do Pseudo-Dênis foi oferecida a Luiz o Piedoso pelo Imperador Miguel o Gago, em 827. Traduzidas pela primeira vez em latim por Hilduíno, entre 827 e 835, essas obras foram traduzidas uma segunda vez por Jean Scot Érigène por volta de 860. Esta última versão permaneceu como referência até o fim do Século XII. Esses textos místicos impregnados de Neoplatonismo marcaram época, influenciando Jean Scot Érigène, que se apoiou sobre a autoridade deles para promover suas ideias.4

A relação com primeiro Bispo de Paris
São Dênis o Aeropagita, Bispo de Atenas 
(vitral da igreja Saint-Roche de Paris).

Dênis o Areopagita, convertido por Paulo, é considerado como o primeiro Bispo de Atenas. A partir do Século IX, os Parisienses também o identificaram ao seu primeiro Bispo, Dênis de Paris, martirizado no Século III sob o reinado do Imperador Décio. Hilduíno (775-840), abade de Saint-Denis, popularizou esta ideia em sua Vita.
Alain de Libera evoca esta “lenda extravagante” como uma transferência simbólica do “centro de estudos” de Atenas para Paris. Trata-se de um translado, da mesma maneira que um lugar pode se tornar um novo santuário graças a um translado de relíquias. Num contexto intelectual em que a união do pensamento cristão à filosofia grega era amplamente valorizada, e no qual Paris foi reconhecida como uma Sé Episcopal fundada por um filósofo do Areópago ateniense, a questão é saber onde está a capital da Filosofia. A antiga Lutécia afirmava, assim, ter se tornado para o pensamento cristão o mesmo que Atenas era para o mundo antigo. Esta reivindicação para a capital do Rei Carlos o Calvo foi mais amplamente difundida na Europa carolíngia. Alguns anos mais tarde, Notker de Lippu (950-1022), abade de Saint-Gall, desenvolveu assim o tema da transitio studiorum, enquanto que outras tradições alemães falavam de um “translado das relíquias de São Dênis” em Ratisbonne.5

A identificação do autor dos tratados de mística ao convertido por Paulo foi contestada a partir do Século XV, ao mesmo tempo que a lenda o ligava ao primeiro Bispo de Paris. Houve um processo entre o Capítulo de Notre-Dame de Paris e os monges da Abadia Saint-Denis. O parlamento de Paris decidiu: o corpo do Areopagita se encontra na Abadia Saint-Denis e o do Coríntio, em Notre-Dame de Paris.6 No Século XVI, dois humanistas alemães, Johannes Aventinus (1477-1534) e Albert Krantz (1448-1517), afirmaram que o corpo do Areopagita se encontrava na igreja Saint-Emmeran de Ratisbona. Jean Doc, grande prior da Abadia Saint-Denis, redige então uma Vita, passio, sepultura Christi martyris aeropagitae dionysii sociorumque, editada em 1549. Críticas contra esta afirmação começaram no período dos últimos Valois, terminando durante o reinado de Henrique IV. Um monge de Saint-Denis, Jacques Doublet, designará em 1625 os adversários da tese do Areopagita Bispo de Paris e refutar a tese deles. Em sua obra sobre os concílios dos Gauleses, Jacques Sirmond (1559-1651) relançou a crítica em 1629. Em 1636, François du Bosquet, ainda um jovem magistrado antes de se tornar Bispo, publicou Ecclesiae gallicanae historiarum liber primus, pedindo aos prelados que revisassem o texto, que está anexado na cronologia contendo o que é aceito e as retificações por ele feitas. Bosquet destacou o envio de Dênis à Gália no ano 95, junto com seis Bispos: Ursino, Potino, Nicásio, Gaciano (ou Graciano), Taurino e Paulo. Mas ele também cita Dênis no ano 211 com Trófimo, Saturnino, Juliano, Austremônio e Paulo citados por Gregório de Tours. Bosquet também apurou os argumentos em 1636 a partir da segunda paixão latina de São Dênis. Um monge de Saint-Denis, Germain Millet, responde na Vindicata ecclesiae galicanae de suo Aeropagita dyoniso gloria. Os polemistas, em suas críticas, se referem aos trabalhos de  Nicolas Le Fèvre que, no entanto, escreveu apenas um breve esboço (schediama) crítico sobre Dênis, publicado em suas Opuscula publicadas em 1618. Um jesuíta, Lansselius, responde aos queduvidam da missão do Areopagita na Gália em sua Disputatio apologetica, no início das Opera omnia do Areopagita.7 Para Tillemont (1637-1698), três Dênis precisam ser distinguidos: Dênis o convertido por Paulo e primeiro Bispo de Atenas, que viveu no Século I; Dênis de Paris, que viveu no Século III; e, por fim, o Pseudo-Dênis o Areopagita, autor de tratados de mística, que viveu provavelmente por volta dos Séculos V e VI. No Martirológio Romano, Dênis o Areopagita, primeiro Bispo de Atenas, é celebrado em 3 de outubro, enquanto que o primeiro Bispo de Paris e o Pseudo-Dênis o Areopagita são festejados juntos em 9 de outubro.

Referências
1. Emile Osty, notas do livro dos Atos dos Apóstolos, La Bible, Seuil, Paris, 1973, (ISBN 2-02-003242-2)
2. CETAD, Paul à Athènes
3. Ysabel De Andia (dir.), Dênisl'Areopagita: tradition et métamorphoses, Paris, Vrin, coll. Histoire de la philosophie 42. (ISBN 978-2-7116-1903-0)
4. Émile Bréhier, La Philosophie du Moyen-Âge, Les Échos du Maquis [1] [archive]
5. Alain de Libera, La philosophie médiévale, Paris, PUF, coll. Quadrige, 1993, pp. 6-7. (ISBN 978-2-13-054319-0)
6. Henri-François Delaborde, Le procès du chef de saint Denis en 1410, em Mémoires de la Société de l'histoire de Paris et de l'Ile-de-France, 1884, tome 11, p. 297-409
7. Jean-Marie Le Gall, Le Mythe de Saint Denis: Entre renaissance et révolution, Champ Vallon (collection Époques), Seyssel, 2007, p. 237 (ISBN 978-2-87673-461-6)

Bibliografia
• Obras de São Dênis o Areopagita, traduzidas do grego pelo Abade Darboy, Ed. Sagnier et Bray, 1845 (Wikisource)
• Traité des Noms divins, trad. M. de Gandillac, Ed. Aubier, 1941.
• Les Noms divins, La Théologie mystique, trad. Y. de Andia (Sources chrétiennes 578-579), Ed. Cerf, 2016 (ISBN 978-2-204-10465-4) e 978-2-204-10790-7).
• La Hiérarchie céleste, trad. M. de Gandillac, Ed. Cerf, 1958.
• Tomas de Aquino, Commentaire de saint Thomas d'Aquin sur « Les Noms Divins » de Dênisle Mystique, trad. S. Pronovost, 2014.
• (fr+la) Dominique Poirel (diretor), Hugonis de Sancto Victore Super ierarchiam Dionisii, Turnhout, Brepols, coll. « Continuatio mediaevalis / Corpus Christianorum » (no 178), 2015, 748 p. (ISBN 978-2-503-04781-2).

Tradução e Adaptação:
Gisèle Pimentel

Fontes:
https://fr.wikipedia.org/wiki/Denys_l%27Ar%C3%A9opagite
http://levangileauquotidien.org/zoom_img.php?frame=46049&language=FR&img=&sz=full
https://fr.wikipedia.org/wiki/Denys_l%27Ar%C3%A9opagite#/media/File:V%26A_-_Raphael,_St_Paul_Preaching_in_Athens_(1515).jpg
https://fr.wikipedia.org/wiki/Denys_l%27Ar%C3%A9opagite#/media/File:Denis_l%27Ar%C3%A9opagite_-_Louvre_MR416.jpg
https://fr.wikipedia.org/wiki/Denys_l%27Ar%C3%A9opagite#/media/File:DSCF1674_Paris_Ier_eglise_St-Roch_vitrail_St_Denis_rwk.jpg

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